Por meio de um trabalho multidisciplinar desenvolvido em Novo Hamburgo (RS), a advogada Lisiana Carraro e a psicóloga Michele Terres Trindade abordaram o tema “Se de dia a gente briga, a noite a gente se ama - Uma interlocução entre Direito e Psicologia nos desafios da violência conjugal”, no Grupo de Estudos de Direito de Família do IARGS, hoje, dia 09/10, no quarto andar do instituto. Ambas foram recepcionadas pela diretora-adjunta do grupo, Dra Liane Bestetti.
As duas profissionais trabalham com o mesmo tema, violência doméstica, porém com enfoques diferentes. Enquanto a percepção da advogada é feminista, na qual o homem é o agressor e a mulher é a vítima (violência de gênero), a psicóloga tem uma visão sistêmica (violência conjugal), ou seja, não há vítima e nem agressor. De qualquer forma, ambas acolhem as mulheres vítimas de violência e desenvolvem um trabalho de fortalecimento para romper este ciclo, tanto jurídico quanto psicológico.
Todavia, entendem que o homem, de igual forma, também necessita de ajuda para que possa entender o porquê dele praticar a violência. No grupo que trabalham, em Novo Hamburgo, a Dra Lisiana explicou que é feito um atendimento especial às mulheres que contam com suporte psicológico e amparo jurídico.
A Dra Lisiana destacou a necessidade de elaboração de políticas públicas voltadas a esta demanda social a fim de chamar a atenção que a violência doméstica não ocorre somente com pessoas que estão em situação de vulnerabilidade, mas em todos os lares, independente da classe social. Ele ressaltou a importância de fortalecimento das coordenadorias de políticas públicas às mulheres em todos os municípios. Além disso, salientou a necessidade de implementação das Salas Lilás, espaço criado para prestar atendimento especializado e humanizado às mulheres vítimas de violência física e sexual, e funciona dentro do Instituto Médico Legal (IML), em todo o Estado.
O local, explicou, é equipado para a vítima fazer exames periciais e possui uma equipe multidisciplinar composta por policiais, assistentes sociais e enfermeiras a fim de realizar atendimentos especializados. A integração dos serviços pretende ajudar as vítimas a se sentirem mais à vontade para relatar e falar sobre a violência sofrida. O projeto, disse, é o resultado de uma parceria da Polícia Civil com o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, a Secretaria Estadual de Saúde, Secretaria Municipal de Saúde e do Rio Solidário.
De acordo com a psicóloga Michele, é feito o acolhimento de pessoas com sofrimento psicológico, tanto de mulheres quanto de homens, que se envolveram em casos de violência doméstica. Os atendimentos são realizados na Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) de Novo Hamburgo, além do próprio Fórum local e do Núcleo de Práticas Jurídicas da Feevale. “A ideia é que se possa fazer esse acolhimento que integra a relação conjugal e, de alguma forma, montar uma estratégia de solução de conflitos a fim de que não haja reincidência em relações futuras”, explicou.
A psicóloga advertiu que a briga não deveria fazer parte do relacionamento afetivo, ou seja, brigar durante o dia para fazer as pazes à noite. Segundo ela, os conflitos não são reconhecidos como violência conjugal pelos casais; são descritos como brigas, discussões e pequenas agressões, normais em todo casamento.
A professora Michele alerta que a violência é transgeracional, ou seja, em famílias violentas, as crianças aprendem que as condutas agressivas são uma forma eficaz de controlar as outras pessoas.
O trabalho desenvolvido pela advogada e pela psicóloga é nominado de Nadim (Núcleo de Apoio aos Direitos da Mulher), um projeto de assistência jurídica comunitária, desde 2009, que busca reconhecimento e fortalecimento da dignidade da mulher com aconselhamento jurídico e psicológico para mulheres e homens. É gratuito para a comunidade de Novo Hamburgo (RS).
Terezinha Tarcitano
Assessora de Imprensa
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