No Grupo de Estudos de Direito de Família e Sucessões do IARGS, realizado no dia 26/03, o convidado foi o advogado e psicólogo Jorge Trindade, associado do Instituto, que falou sobre o tema “A Separação dos Amantes: da perda à restauração”. As anfitriãs foram a diretora e a diretora-adjunta, Liane Bestetti e Ana Lúcia Piccoli, respectivamente.
O título é tema do livro do psicanalista austríaco Igor Caruso, que serviu de base para a palestra do convidado. De acordo com o Prof. Jorge, na era da pós-modernidade existe um paradoxo bem claro: de um lado o avanço científico e tecnológico que propiciou às pessoas manifestarem suas opiniões, por exemplo, nas redes sociais; do outro, a crescente dificuldade das reações interpessoais: “parece que estamos impossibilitados para criar um mundo mais fraterno e mais justo”. Baseado nisso, revelou que passou a estudar o livro em questão.
“Se nós não pudermos decodificar o amor de um casal que se transforma no ódio, o processo fica apenas um amontoado de coisas”. Conforme explicou, nas primeiras 60 páginas do livro é tratado sobre o que denominou de “fenomenologia da morte” ou “fenomenologia da separação”, pois, segundo ele, a separação implica em uma morte. Na avaliação do palestrante, pior do que a morte natural de alguém que se ama, é a morte da separação do amante, “ela é mais cruel porque é uma morte em vida”.
“Vive-se aí o sentimento da destruição e da morte estando ainda vivos, tanto de um lado quanto de outro. Então, há uma relação profunda entre a fenomenologia da separação e aquela que é a história da morte, e com o detalhe de que ela significa uma morte em vida e vai passar pelas mesmas etapas do luto”, argumentou.
Esse momento de luto, evidenciou, é composto por duas etapas: a consciência de que a pessoa amada morre dentro de si; e, o que considera pior, se dar conta de que “eu” também morrerei no imaginário do outro: “eu morro no imaginário de quem eu amo e, não obstante, eu continuo aqui, vivenciando os problemas da separação”.
Como advogado, afirmou que, neste caso, os processos na área de Direito de Família duram mais do que deveriam, e não culpa a demora do Judiciário, mas sim do próprio casal que não aceita fazer acordo, “porque os processos ainda o mantém vivo”.
Citou, inclusive, que, em algumas audiências de separação, é comum que o casal se arrume bem, trajando roupa nova, mas, na verdade, não quer que o processo termine, optando pelo litígio, como forma de não ser “enterrado” e, assim, permanecer existindo na vida um do outro.
Portanto, fez uma analogia com o “tempo kairológico”, ou seja, a busca do tempo adequado, que parece nunca ter fim. No seu entender, dentro do Direito de Família há um colapso do ego nas separações. “Há um colapso do indivíduo, há um colapso do outro e, às vezes, há um colapso até de quem está trabalhando nesses casos, porque aquilo nos envolve, também nos retira energia”, explanou.
Como psicólogo, disse que o sofrimento no processo de separação é muito doloroso, mas, se a parte é retirada do processo, torna-se ainda pior, pois é confrontada com o luto do “desmantelamento do ego”. Dessa forma, afirma que o movimento do processo pode ser extremamente “saudável” para alguns indivíduos, embora extremamente “maligno” na troca de petições. “Pode ser um movimento de vida ainda que para a morte”, opinou.
Para finalizar, esclareceu que a separação de casal se refere tanto no ramo da Psicologia quanto no do Direito por se tratar de um acontecimento que demanda intervenção jurídica e, ao mesmo tempo, acolhimento psicoterapêutico, demandando um trabalho conjunto.
Terezinha Tarcitano
Assessora de Imprensa
Nenhum comentário:
Postar um comentário